segunda-feira, 16 de abril de 2012

Relacionamentos X TDAH

Eu já tive alguns relacionamentos conturbados, e hoje, fazendo o tratamento direitinho observo que poderia ter agido de forma diferente. Não que os caras fossem 100% também né? Mas minhas atitudes impulsivas só pioravam a situação...
Tem uma música da Rita Lee que define bem o comportamento TDAH nos relacionamentos:

Desculpe O Auê

Rita Lee

Desculpe o Auê
Eu não queria magoar você
Foi ciúme sim
Fiz greve de fome
Guerrilhas, motins
Perdi a cabeça
Esqueça!

Da próxima vez eu me mando
Que se dane meu jeito inseguro
Nosso amor vale tanto
Por você vou roubar
Os anéis de Saturno...


Sempre quando eu ouço essa música, eu dou muita risada e lembro a pessoa que eu era, e me esforço para não mais ser... Porque as pessoas não tem a obrigação de me aturar, enfrentar e sentir na pele o reflexo dos meus problemas...
Mas hoje graças a minha persistência e as maravilhosas médicas que me acompanharam (Dra. Maria Helena Fontana e a Terapeuta Janete), tenho uma qualidade de vida infinitas vezes maior do que antes. E as pessoas ao meu redor também estão mais felizes com meu comportamento. Resumindo, estou mais "domesticada", hahaha.


terça-feira, 10 de abril de 2012

A descoberta

Descobrir que tenho Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH), foi um alívio, pois encontrei uma justificativa para muitas das dificuldades que tenho. Sempre fui agitada, hiperativa, desde o tempo da escola, mas as pessoas costumam dizer que isso é normal nas crianças. Às vezes, fico me perguntando o por quê esse problema não foi diagnosticado na época em que eu frequentava a escola, mas acredito que os profissionais da educação não estão preparados para lidar com esse tipo de desafio. Hoje, se for colocar na balança tudo que eu aprendi, percebo que tive um prejuízo muito grande, pois não tive um bom rendimento escolar, além de não lembrar de boa parte dos conteúdos essenciais. Não conseguia ficar sentada e prestar atenção nas explicações dos professores, conversava em excesso, não conseguia copiar as tarefas, "desligava" e perdia o foco da aula com frequência, tinha grande dificuldade em concluir tarefas e desistia delas com facilidade. Isso pode até parecer que não tem muita importância até a gente entrar no mercado de trabalho.
Na minha rotina diária, comecei a perceber as dificuldades se agravarem em realizar tarefas simples, tais como lembrar de procedimentos rotineiros, pois eu me esquecia. Minhas colegas me perguntavam: "Mas como tu não lembras, você está acostumada a fazer isso!", isso me constrangia, e ao mesmo tempo, me frustrava, pois sabia que em algum momento já havia realizado aquela tarefa. Percebi que estava ficando mais sério quando me esqueci que estava atendendo um cliente e o deixei esperando, até minha colega me chamar e lembrar-me que eu o estava atendendo. Até que comecei a esquecer dos conteúdos estudados para as provas da faculdade exaustivamente, dos prazos para as entregas dos trabalhos, dos horários dos meus compromissos, dos dias da semana, dos rostos das pessoas que eu conhecia... O pior de tudo é a cobrança da família sobre as coisas que a gente não consegue realizar. Ouvia muitas coisas do tipo: "Você rodou na faculdade pois não estudou o suficiente."; "Você deixa as coisas pela metade pois tem preguiça de terminar!"; "Você mente que esqueceu de cumprir aquela tarefa por conveniência pois não gosta de fazê-la!". Eu estudava muito para as provas, e tirava notas abaixo da média, enquanto meus colegas de aula diziam: "Como pôde tirar uma nota dessas? Nossa eu nem estudei e quase gabaritei a prova, estava muito fácil!" São sucessões de frustrações pois as pessoas colocam a culpa em você, mas não é sua culpa, e você se sente frustrado consigo mesmo pois não tem o mesmo rendimento que os outros. Começa a ter problemas de auto-estima, pois se sente incapaz e menos inteligente que os outros e percebe que não tem condições de realizar novos desafios, pois cometerá erros graves, que com a sua experiência não deveriam ocorrer, por mais que você revise várias vezes o seu trabalho.
Quando eu recebi o diagnóstico, depois de uma série de exames complexos e específicos, foi um susto, pois descobri que tenho a mesma capacidade de concentração e atenção de uma pessoa de 15 anos e 6 meses, e eu tenho 20 anos. Essa parte do cérebro responsável pela concentração é o lobo frontal, que no meu caso demora mais tempo para amadurecer do que as outras áreas do cérebro. Aí também descobri que o meu problema é crônico e progressivo, e só iria piorar com o tempo, sem o devido tratamento. Nessa hora vem a parte mais difícil que é você aceitar que tem um problema, e isso requer humildade, aceitação e desprendimento, além de muita perseverança e fé em si mesmo.
Começar o tratamento foi a melhor coisa que me aconteceu, pois melhorei muito. Posso dizer que nesses quase 3 meses que estou me tratando tenho me sentido melhor, diminuiu minha ansiedade, as pessoas ao meu redor também estão contentes com meu comportamento e com os resultados. Reduziu muito o turbilhão (fluxo de pensamentos) na minha cabeça, proporcionando uma facilidade de raciocínio e na conclusão de tarefas. Até minha família percebeu minha melhora e costumam dizer que eu estou uma pessoa mais tranquila e mais tolerante, pois nós brigávamos muito, eu não tinha paciência com nada e com ninguém e eles me culpavam pois não entendiam o que eu tinha de errado.
Além do tratamento químico diário, requer também o esforço da pessoa em colaborar com o tratamento. Eu, por exemplo, procuro ter a disciplina de anotar num diário meus compromissos, para exercitar a memória (sugestão do Dr Juliano Lima). O tratamento é maravilhoso, proporciona uma qualidade de vida muito melhor, mas não faz milagres: tem vezes que você vai ter dificuldades de focar em uma atividade de rotina ou vai esquecer de uma coisa ou outra, e você vai ter que aprender a aceitar isso, não adianta se revoltar consigo mesmo, pois não irá resolver e só causará mais frustração. Nessa pouca experiência que tenho, o que eu aprendi que quem possui TDAH não deve ficar se comparando com o  resto das pessoas, tem que buscar mecanismos para contornar as situações e estratégias de memorização e concentração para ter êxito em suas tarefas e realização na sua vida profissional e pessoal. E ainda o mais importante: a confiança em si mesmo que você recupera.